sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Não foi culpa de São Pedro.....


Embora superando recordes históricos, mortandade no Estado do Rio inscreve-se numa rotina de omissão e descaso das autoridades A calamidade que se abateu sobre a região serrana do Estado do Rio de Janeiro, na madrugada da quarta-feira, não se dimensiona apenas pelo número de mortos -passavam de 500 ao término desta edição- nem pelas imagens impressionantes do rastro de água e lama que, em poucas horas, transformou chalés turísticos e moradias simples num cenário de desespero e destruição.


No que tange ao cômputo das vítimas, Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo já superam o recorde de meados dos anos 60, quando 300 pessoas morreram em temporais no Rio e mais de 400, estima-se, perderam a vida em Caraguatatuba (SP). Essas haviam sido as maiores catástrofes atribuídas a causas naturais no país.


Mas a expressão "causas naturais" é enganosa quando se fala em acontecimentos deste tipo. Se a violência das chuvas foi excepcional, não se deve a nenhum fenômeno atmosférico o fato de que encostas tenham sido ocupadas descontroladamente -a exemplo, aliás, do que acontece em muitas outras cidades do país.


Não depende da meteorologia a ausência de mapeamento adequado das áreas de risco. Não constitui, por fim, culpa de são Pedro (para usar o clichê das autoridades nesta época do ano) que menos da metade das verbas federais para prevenção de desastres tenha sido aplicada em 2010.


Segundo o Ministério das Cidades, de 99 municípios com histórico de tragédias apenas 45 apresentaram projeto que os habilitasse a receber dinheiro para obras de prevenção. Isso não justifica desvios políticos do governo federal, como os praticados pelo ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira, que destinou metade das verbas a seu Estado, a Bahia, em 2009. Tampouco explica os atrasos ou a retenção de recursos -já escassos- prometidos quando ocorrem os desastres.


Não se trata apenas de incompetência técnica nem de falta de recursos. Por motivos políticos, autoridades nas mais diversas regiões do país não se dispõem a pagar o preço de remover os habitantes das áreas ameaçadas. Facilitaram, muitas vezes, a sua ocupação, criando redutos eleitorais em terrenos predestinados à tragédia. Ignoraram normas de edificação, consideraram dispensáveis os cuidados com a cobertura florestal e com a impermeabilização do solo.


Soluções técnicas podem ser diferentes, no vale do Itajaí (SC) ou na região metropolitana de São Paulo, em Pernambuco ou no Rio de Janeiro. Igual, entretanto, em toda parte, parece ser a omissão das autoridades -que só pode ser chamada de criminosa, quando suas vítimas, mais uma vez, se contam às centenas nestes dias.

fonte: folha de São Paulo

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